Grande Mário Prata: Probre Zero (o estado de s. paulo, 22/10/2003)
Sugiro ao nosso viajante presidente lançar logo o programa Pobreza Zero. Não, não se trata de erradicar definitivamente a pobreza no Brasil que isto não é façanha para quatro ou oito anos. Um dia, espero, não tenhamos mais essa pobreza que vemos na televisão ou nos sinais de trânsito das grandes cidades. Existem outras pobrezas no Brasil.
Não é dessa pobreza econômica que eu falo. Eu falo da pobreza mental. Talvez um programa, umas leis, umas broncas, uma cara feia, resolvam essa pobreza que está se alastrando pelo Brasil.
Por exemplo: quer pobreza maior do que técnico de futebol brasileiro usar terno e gravata debaixo de um sol de 40 graus (fora a poeira e, às vezes, o barro)? E, por falar em futebol, e a moda de jogador negro raspar a cabeça?
O quê que esses caras tinham na cabeça?
Pobreza não é o preço alto de certos restaurantes de São Paulo. Pobreza é o cara ir lá e gastar 200 pilas para comer. Tem que ser muito pobre para entrar numa roubada dessa.
Pobreza são as sessões da Câmara e do Senado brasileiro com aquele bando de animais lá na frente gritando, se empurrando. Você já deve ter visto sessões semelhantes em qualquer outro país do mundo. Todo mundo sentado, normal, civilizado. Aqui, aquela pobreza de sempre. Me garantiu um amigo deputado que eles ficam lá na frente para aparecer na televisão. Quer pobreza maior do que essa?
Pobreza nacional é a quantidade enorme de presos aguardando julgamento dentro da cadeia. Pobreza maior é rico não ser preso. E quando é, com um bom atestado cumpre a pena em casa, comendo pizza.
Pobreza é a nossa mania de imitar americano em tudo. Pois agora já temos prédios inteiros onde não se pode fumar lá dentro.
Existe maior pobreza do que estar andando calmamente na rua e morrer com uma bala perdida na sua cabeça?
E essas pessoas que mandam e-mail com animaçõezinhas coloridas que ficam pulando na cara da gente? Pobreza, gente, é jogar cigarro pela janela do carro. Isso sem falar em papel, casca de banana e lata de cerveja. Isto é pior que pichar os muros da cidade.
Poderia falar em sonegação do imposto de renda, quando estamos roubando de nós mesmos, mas não vou entrar nessa receita que a coisa tá feia por lá. Tá uma pobreza gravada e tudo.
Pobreza é comprar CD pirata, uísque de contrabando, cigarro feito no Paraguai e aceitar as regras e os campeonatos que a CBF manda e desmanda.
Pobreza é o Alex do Cruzeiro não ser titular absoluto da nossa seleção.
Aliás, os atuais técnicos da seleção... deixa pra lá.
Pintar o cabelo de loiro, deixar a unha retangular, pintar as dos pés de vermelhão.
Mas a nossa maior pobreza mesmo é querermos ser um país de Primeiro Mundo.
Aí a coisa até dói. Em São Paulo tem uma loja, numa badalada rua, onde está escrito na placa "artigos de Primeiro Mundo". Pra que tudo isso gente? É tão bom ser brasileiro, ser relaxado, andar de sandália, chupar um picolé.
Pobreza é tomar caipirinha de vodca! Onde já se viu desnacionalização maior?
O Brasil tá precisando de pinga, Lula! Pinga!
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