Padaria: A Crônica sem fim

Não sei se isso só acontece comigo...
Certa vez eu li uma crônica do Leandro Calçada, cujo qual agora o nome me foge da memória, onde ele dizia que programador como é, em varias ocasiões não pode dar fim aos programas por si começado, ou seria por muito complexo, ou por falta de tempo, disse também que ficara muito triste quando situações do tipo aconteciam, pois pudera, como diz uma típica frase de programadores: "Programar é dar vida a linhas mortas", ou seria, brincar de Deus? Que seja, acontece que tais programas não estariam vivos, em suma, não estariam compilados para a alegria do pobre Leandro.
Deparei com algo semelhante na semana passada, comecei a por em linhas os acontecimentos que ocorrem na padaria aos sábados à tarde; revirando os arquivos de minha memória achei que a padaria merecia um lugar em meio às crônicas que estão neste espaço. Comecei-a e nas primeiras linhas já não gostava do que escrevia, mesmo sendo tudo verdade, achei que não estaria bem escrito, e faltava algo a mais; mas o que? Não sei e resolvi dar um tempo, arejar a cabeça, da uma espairecida. Saí, dei umas voltas, passaram-se um dia... Agora poderia ser o momento certo para terminá-la. Releio e realmente não esta de meu agrado. Uma arrumada aqui, outra ali... Apaga daqui, acrescenta dali... Não, ainda não está bom...
Algo extremamente difícil escrever sobra à padaria, por que será? Será que pelo simples fato de não se poder escrever sobre a padaria e sim ter que viver tudo que acontece lá? Acho que não, conversa fiada isso, isso não existe...
Mas realmente à noite eu tentei novamente por um fim no que havia começado, estava decidido que essa seria à hora, e que agora sairia tudo que tinha que sair de minha memória. Relembro-me de acontecimentos, fatos, piadas, tudo que possa dar um valor à tão esperada e demorada crônica da padaria. Mais uma vez leio e mais uma vez decido começar tudo de novo, não estava boa... Começo do começo, quando nos encontramos e partimos para a "Santa Padaria". De um certo ponto de vista nesse momento parece que agora estaria ficando boa a tal crônica, é agora gostei... Ao menos um começo já tenho.
No desenrolar da estória acabo ficando preso no meio. Não porque falta de coisas pra eu contar, nunca, sempre tem muito a se contar de uma tarde na padaria, mas realmente essas coisas estão presas em meu cérebro e parecem não querer sair de lá. Mais uma vez tento, em vão...
Acabo desistindo e assim como o Leandro Calçada parece que deixei um filho a Deus dará, abandonado, sozinho... O arquivo está a salvo em meu computador, contendo muito lixo e pouca coisa válida sobre a padaria, quem sabe em um futuro eu não possa tentar mais uma vez.

Não sei se grandes cronistas como Mário Prata, no qual me inspiro, já passou por situações semelhantes, pensei em procurar por alguma crônica desse mesmo autor na qual ele poderia me dizer algo, mas achei melhor não. E se de repente ele nunca passou por isso, mesmo achando difícil de nunca ter passado, não fui atrás...
Um outro dia lendo uma entrevista do Chico Buarque sobre o seu último livro, Budapeste, li que ele demorou dois anos para concluí-lo. Em muitos casos Chico passava algum tempo sem escrever nada e quando voltava, vira que seu trabalho havia sido em vão, jogara fora um, dois meses do que escrevera, pois não gostara do que lera, pode ser que pelo simples fato de ser uma pessoa de extrema perfeição. Mesmo assim, a graças à mentalidade de Francisco o livro pode sair de sua mente e pular para tela de seu computador. Assim como o "branco" persegue a pessoa de Mário Prata (digo, pois como já li em uma de suas crônicas; já escreveu mais de uma vez sobre "branco", certa vez foi até mesmo alertado por seu filho que a crônica que estaria escrevendo já era a terceira sobre "branco"), a "finalização" rondou a minha... A Padaria ficou trancada nos meus pensamentos e a vontade de expressar aqui tamanha alegria que é estar lá não foi possível. Mesmo assim não fico triste, adorei ter-me deparado com tal situação, será que daqui pra frente vem mais? Tomara que não...
Tomara que eu não tenha que mais uma vez escrever indiretamente sobre um assunto que gostaria de tratar diretamente...

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