Já apanhei na escola!

Nunca gostei muito de estudar, minha mãe conta (pra falar a verdade parece até que me lembro), que no meu primeiro dia de aula, após ela me vestir, escovar meus dentes e me enfiar carro, eu que chego até as dependências da escola dormindo no banco de trás, levando e: "Nossa ta chovendo?". Esse fora meu primeiro dia de aula...
Sem contar que abandonei o "pré" duas vezes, como todos, eu não tenho o diploma do "prézinho".
Eu não queria estudar, como sempre não queria responsabilidades para minha vida, queria dormir, gostava de dormir, acordar tarde e assistir tevê. Porém sabia que deveria estudar. Foram inúmeras as vezes que driblei minha mãe para não ir à escola, isso quando pequeno, na fase do primário, escondia de baixo da cama, subia em cima da casa, dava a volta no quarteirão, fingia a dor de barriga, essas eram as táticas usadas para que pudesse dormir até mais tarde.
Era um aluno no qual a professora tinha certeza que eu seria um dos melhores da classe, isso porque era filho da Dona Bete, professora de Matemática e logo mais Diretora da escola onde estudara. Lembro da minha primeira professora, na época hoje eu não sei se é assim ainda, chamávamos as professoras de "Tia", minha primeira professora foi a "Tia Odete", era o demônio em pessoa, levando em consideração a mentalidade de um garoto de oito anos que era obrigado a estar de pé às seis e meia da manha para estudar, Tia Odete era a última pessoa que eu gostaria de ver na minha frente, e quando não pudera faltar sempre estava lá, batendo de frente com aquele mau humor em pessoa.
Hoje a garotada entra para a escola praticamente alfabetizada, sabendo ler e escrever, nem que sejam algumas letras, mas sabem. Eu não sabia nem de se tratava uma vogal, escrever então... Tivemos que começar do começo: A - E - I - O - U, se juntar O + I = OI ai nascera umas das primeiras palavras que aprendi a escrever. Aprendi, digamos que de forma meio que de aula particular. Eu havia faltado na aula na qual se aprendera a fazer a concatenação das palavras, estava perdido e meus companheiros já estavam no OIE. De forma mágica e trágica eu acabei por entender que se juntassem as tais vogais nasceriam às palavras. Trágica porque como disse foi meio que uma aula particular, sendo que Tia Odete teve de me ensinar, pegando na minha mão, explicando o que era a tal vogal, esbravejando, reclamando...
Pois bem... E assim eu aprendia a escrever, a maneira com que aprendi a ler eu não me lembro, mas com certeza não há de ser muito diferente de tal modo.
As aulas de matemáticas... Odiava, onde eu iria usar a "continha de dividir" em minha vida o que me importava se 1 + 1 = 2.
É engaçado como nos lembramos de alguma coisa, e esquecemos as que não é tão importante. Lembro que a Vanessa, hoje mãe de família, me mostrou como fazer o número 4 de forma simples, muito diferente de como a Tia Odete havia ensinado, não precisava puxar uma perninha, fazer tipo um "L" e depois à outra cortando, era simples, rápido e prático, fazia tudo de uma vez, em um único risco saia o número 4, uma maravilha para um preguiçoso como eu... Antes eu não tivesse aprendido da forma que a Vanessa me ensinara. Lembro que a tal Tia Odete, saiu passando de carteira em carteira vendo o resultado de uma "continha" na qual passara na lousa. Foi chegada a minha vez e... "A conta ta certa, mas esse quatro... faz outro pra eu ver?". Fiz... Ela viu como eu fazia, e quase morri de vergonha com os gritos que ela dava. "Foi assim que eu te ensinei? Que isso? Quem te ensinou a fazer uma coisa assim?", lógico que eu não ia dizer que foi a Vanessa, levei a maior bronca sozinho...
Até então tínhamos as aulas de Educação Artística separada, pra minha alegria era a professora, ou melhor, a Tia Isaura. Amiguíssima de minha mãe com ela eu não teria problemas. Devido à quantidade de falta ou algum retardo mental em meados de agosto eu ainda não sabia escrever o meu nome, coisa que toda a classe já tinha tal conhecimento. E foi então que a Tia Isaura, ao descobrir que eu não sabia realizar tal feito, veio e me ajudou, graças a ela meu nome saiu em uma folha pela primeira vez "rabiscado" por mim.
O ano termina e quase reprovo. Pra minha tristeza a Tia Odete iria dar aula no segundo ano do primeiro grau. Mais um ano teria que aturar ela, ou ela me aturar. Imagine eu escrevendo com "letra de mão". Não tenho muitas lembranças desse ano, mas também não parei para pensar nelas, só me lembro de uma, onde eu não conseguia escrever o Silva, outra humilhação em publico. Eu tinha que escrever meu nome por inteiro, Rodrigo da "Silva" Viana, se não me engano era uma avaliação e o Silva, nem por Deus saia. Fizera escândalos, mais uma vez e vendo minha agonia, segurou em minhas mãos para que assim o Silva saísse...

A grande mudança aconteceu quando eu passei para a terceira série e graças ao bom Deus mudara a professora. Agora era a Tia Neuza. Um amor de mulher, doce, meia, era o último ano dela na escola, e eu fazia parte da última turma, logo ela se aposentara.
Por pouco não para de trabalhar antes do tempo. Até o meio do ano, julho, eu dei muito trabalho para a Tia Neuza, quase a matei...
Uma vez eu lembro que eram as tais aulas de Matemática. Exercício na lousa e "Rodrigo, fulano, beltrano, venham resolver aqui", fulano e beltrano terminaram rápido, e se sentarão. Eu não sabia e na minha santa ignorância fiquei ali parado de testa pra lousa esperando que o resultado caísse do céu ou que ela me mandasse sentar. Nada disso aconteceu, mais uma vez eu era submetido a gritos "Coisa feia, a mãe é professora de matemática e você não sabe resolver isso...", duvido muito que por esse motivo ela ficaria tão nervosa, algo a deixara mais nervosa e eu era o escolhido para o "descarrego". Não bastassem os gritos, acabei por levar três tapas na bunda, acompanhado dos gritos "Porcaria dum moleque". A vergonha foi tanta que no dia seguinte não fui à aula. Decidira tentar estudar. Talvez um pouco tarde, acabei ficando para recuperação no meio do ano. Eu e mais uns cinco, posso dizer com certeza que era o melhor aluno da recuperação. Ao termino das férias, garanto que me tornei um dos melhores alunos da sala e não fiquei para recuperação no final do ano, como era de costume. A Tia Neuza me salvou, benditos foram os tapas que me deu, não doeu, mas envergonhou e desde então eu intencionalmente ou não, mudei, mudei para melhor. Nos demais anos de estudo de minha vida, eu só fiquei para recuperação na quinta série, na aula do professor Rubens, Ciências, a letra dele era um horror...
Mas essa é uma outra estória...
Ainda hoje a Tia Neuza me conhece, cumprimenta sempre que me vê, e é muito bom fala "oi" pra ela...
Já a Tia Odete, em uma ocasião fora da sala de aula, onde ela estava sentada conversando com minha mãe e eu rabiscando em uma lousa, acabei escrevendo "reservadamente". Estava certamente falando mal de mim, e na minha frente, pra ela eu não passava de uma besta, lembro que escrevi e sai, somente a escutei comentando com minha mãe com um tom de espanto: "Ele escreveu isso???"

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