O Marquinhos e seu Carma

O Marquinhos e seu Carma

Tenho a leve impressão que o motorista que nos conduz a faculdade, o Marquinhos, tem um carma. Além de ter que ir todo santo o dia para a faculdade e ficar lá esperando por mais ou menos quatro horas, que levando em conta se chegamos por volta das dezenove horas e partimos as vinte e três, são quatro horas, não bastasse temos que também acrescentar nessas quatro penosas horas do Marquinhos mais cinqüenta minutos de viajem, vamos arredondar esse cinqüenta minutos para uma hora, obviamente ele fica mais que uma hora dentro do ônibus, é o primeiro a entrar e o último a sair, mas deixemos assim, uma hora... Então teríamos seis horas, chutando baixo, baixíssimo, que o Marquinhos fica longe de casa.
É viúvo, tem namorada e uma filha de mais ou menos sete a dez anos, passa seis horas por noite fora de casa, num horário que é reservado para a família, onde após passar o dia estudando sua filhinha certamente gostaria de estar com seu pai. Mas o pai esta transportando alunos para ter um futuro, mais uma vez... Santo Marquinhos...
Mas ao carma que me refiro de Marquinhos, não são as horas penosas que ele passa fora de casa, apesar de ser um carma também, mas tal carma são comuns e várias famílias. Eu mesmo não vejo meu pai desde domingo e assim como eu a filhota do Marcos deve estar acostumada. O carma maior de Marquinhos é ter que aturar o povo que o próprio conduz, égente de todo o tipo, de toda classe, de toda cor, apesar de todos ali serem trabalhadores honestos (pelo menos eu acho), cada um tem um jeito de ser, um modo de pesar e agir. Não é fácil lidar com gente isso a gente sabe, todo mundo diz: O pior emprego é aquele que se mexe com gente.. E eu mesmo pude presenciar vários ocorridos que nosso Santo assistiu... São tantos, não caberia a eu dizer todos aqui, mas vamos a alguns:
Ano passado, 2004, começo de ano letivo, alvoroço total no busão, bichos novos, gente nova, trote... Certa noite voltando pra casa, a noite do trote seria aquela, meninas com batom na mão, tinta, esmalte, tesoura, enfim tudo que tem de serventia para judiar e zoar em pessoas novatas tanto como no busão como na faculdade. Mas assim como era o previsto, essa não seria a noite do bicho no busão, a noite do bicho a partir desse dia nunca mais existiria. Meninas alvoroçadas tentarão em vão cortar o cabelo e pintar as pessoas, alguns foram atingidos, outro não queria, mas também tiveram o rosto pintado. Mas um... Um bicho mudaria a estória do busão e quase enfartaria o Marquinhos que observava tudo atentamente pelo retrovisor, o bicho ao ver as meninas loucas para gozarem da cara dos bichos, se revoltou... começou a gritar quando uma ameaçou de passar batom em seu rosto e elas em uma tentativa alucinada se reunirão em sua volta num motim, todas com duas armar em punhos pronta pra o ataque. Em vão... ele se irritou ainda mais e além de gritos agora empurrava-as, cheguei a pensar que ia bater nelas, faltou pouco. Graças ao Santo tudo foi interrompido, tudo foi cancelado, e a partir desse dia nunca mais houve trote nos bichos, vale lembrar que em certos momentos nosso Santo chegou a berrar mais que o bicho que ia ser atacado.
Mais recentemente com o bicho já mais calmo e as meninas com os ânimos controlados, Marquinhos resolveu dar de presente aos seus passageiros um aparelho toca CD. Pobre Marcos, tamanha bondade custaria quase uma ponde de safena. Como estamos lidado com gente e gente tudo junto cada um tem um gosto, a guerra de CD era muita: sertanejo, rock, pop, funk, pagode, samba... De tudo ali tinha. Em uma sexta-feira (dia da bagunça) a fila de CD era tanta e os pedidos ainda maiores que Marquinhos desligou o som e todos foram em silêncio no dia do conversseiro, desde então, o dia da bagunça passou a ser mais um dia comum, tem som ligado e tudo, mas na altura de costume, há dias que tem exceções...
Como disse são tantos os problemas que nem vale citar aqui, devido a sua quantidade obviamente eu iria esquecer de alguns, deixemos somente esses dois exemplos que da pra se ter uma idéia de como é a coisa.
Pobre Marcos...
Da um duro danado levando essa gente (nós) e ainda tem que nos aturar. Mas não é so isso, o que me levou a escrever essas linhas é o fato mais marcante que acontece no busão. Àhora de descer... Todos ali ao descer dizem um tchau, ontem reparando percebi que quando o ônibus se aproxima do trevo de nossa cidade o radioamador é desligado e a partir de então nosso Santo se prepara para ser hospitaleiro com aqueles que o faz passar tanta raiva. E então começa o festival de:

- Tchau Marquinhos...
- Falô Marquinhos...
- tchau... tchau... falô... tchau... falô... falô... falô... falô... tchau... falô... tchau... tchau... tchau... falô... falô... falô... tchau... falô... falô... tchau... tchau... tchau... tchau... falô... falô... tchau... tchau.., falô... falô... falô... falô... falô... falô...

É tanta despedia que parece automático, nem olha pra gente olhando pra frente ele diz um tchau ou um falô conforme for dito há ele, baixo e com uma voz calma e tranqüila.
Seria isso um fruto do cansaço? Não sei...
Sei que gosto de imaginar que meu Santo em sua infinita bondade no fundo gosta de todos ali, cada um de um jeito claro, mas gosta...
E assim como todo Santo, faz muito por todos nós...

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