O meu Bigodinho

Quando eu raspei meu bigodinho...

...não é de se espantar que eu na minha ingenuidade de criança, mesmo ainda criança (ao menos em meu consentimento) tinha traço já de um homem. Coisas que acontecem na puberdade de um homem podem ser muito marcantes, traumáticas se for o caso, em sua vida. Eu, como toda criança em meu período de transição, passei por alguns apuros. Apuros que hoje me vem àmemória e fazem rir, situações constrangedoras, na qual somente há constrangimento naquela idade. Uma dessas situações me lembrei quando estava me barbeando, logo, parecia que minha mente havia voltado o tempo e um atrás do outro esses pensamentos bombardeavam minha cabeça e me levaram a escrever este...
O raio da puberdade não da pra esconder das pessoas, e crianças tímidas como eu podem (eu acho) terem traumas púberes. Um deles é a voz...
Homem sofre com isso, ou melhor, dizer criança?
Criança sofre com isso é um horror quando sua voz começa a mudar e você esta no meio de um conversa e a voz falha, ou desafina. E isso não tem hora pra acontecer, falha do nada a qualquer momento, pode ser quando esta em uma conversa com a mãe, com os amigos, pode ser quando o professor lhe pergunta algo, creio que essa seria a pior hora da voz falhar. Todo mundo certamente ia rir de você.
Uma vez quando fui há casa de um conhecido meu, o Cláudio, ao chegar ao portão como de costume berrei o seu nome a fim de ter comigo ali fora. Chamei uma vez nada, chamei de novo, nada,na terceira vez quando caprichei pro berro sair mais alto, minha voz falhou e foi a aquela coisa horrível...
- Cláááááááááudirrionnnnn
Não saiu, ficou feio demais e na hora senti minha cara queimando. Que vergonha.
Achei que ninguém tivesse ouvido, mas a mãe do Cláudio veio atender-me com cara de espanto certamente ouviu.
Uma outra noite quando estava em casa, meu pai conversando com o Pedro Abílio, um parente nosso aqui da cidade eu sem querer peguei um pouco da prosa deles, estava eu na sala e eles na varanda, quando ouvi o Pedro dizer:
- A voz do Rodrigo ta mudando né? Falha às vezes, hehehe...
Certo que em alguma situação em que eu conversava minha linda voz havia falhado e meus familiares para não me deixar vexado fingiram não perceber, que bom que isso acontece. Mas de nada adiantou, porque depois eu ouvi os comentários.
Vamos deixar as cordas vocais de lado...
Em uma outra transição na qual me lembro e que é marcante acho que para qualquer um, são os pelos. Em meu caso quando deu os primeiros sinais de pelos nas axilas, acho que foi a primeira parte do corpo que notei o aparecimento deles, nem por lei eu tirava a camiseta. Em aulas de educação física então, podia me mandar pra onde fosse, mas eu era sempre jogava no time de camisa, o time sem camisa se quisesse contar com minha presença, que comprasse um uniforme.
Quando nosso professor de educação física faltou, o Seu Carlinhos, e veio um substituto esse tinha montado um time de futebol. O com camisa, contra os sem camisa eu havia sido escolhido para o time sem camisa para minha tristeza e vergonha. Decidido não tirei a camiseta, não estava pronto para que as outras pessoas vissem meu sovaco peludinho... Não queria passar essa vergonha e não ia ser um professor substituto que iria me fazer tirar minha camiseta.
- Você, tira a camiseta, você é do outro time...
- Não vou.
- Ai... Não vai por quê?
- Porque não, eu não vou tirar a camiseta, eu arregaço as mangas e boa...
E ficou assim... Eu era o sem manga no time dos sem camisa. Tirar as mangas, era bem capaz de não ocultar meu pelos, mas ao menos eu estaria protegido e qualquer desconfiança de que alguém havia reparado em meu sovaco eu abaixava as mangas. Estava protegido...
Quando me começou a nascer pelos no rosto também foi outro sacrilégio para minha pessoa, no rosto não tinha como usar as mangas assim como no sovaco, o que eu teria que fazer então era raspá-los. Mas usar um barbeador para mim era ato de um homem não uma criança como eu (eu sempre me achei criança). Resolvi não usá-lo sendo assim teria que deixar a penugem na cara ou sair de casa como um ninja, como ficaria estranho demais um ninja circulando pela escola e pelas ruas optei por deixar a penugem crescer em meus lábios superiores. Era horrível, pelos de tudo que éjeito tentavam aparecer ali, uns grossos, mas na sua maioria todos muitos finos. Algumas pessoas tiravam uma casquinha e faziam piadinhas, que vergonha...
Outro dia na aula de educação física (tudo acontece na educação física), um outro professor, já que eu agora estava no colegial lançou a mim a piadinha:
- E esse bigodão ai Rodrigo... Joga esterco que cresce mais grosso...
Quase desfaleci de vergonha todos os meninos riram de minha cara, normal rir de tonteiras como essa. Moleque é assim mesmo, deu mole, é risada.
Foi então que eu estava no portão de casa em uma tarde, eu e meu bigode, não passei esterco, quando o Cláudio, o mesmo que eu fui chamar ano antes e minha voz falhou, passou até mim e após conversar alguma coisa, na maior naturalidade quando ia saindo para ir embora disse:
- Raspa o bigode que não ornou com você não... Fico feio...
Não ornou... Mas eu não tinha pretensão de deixar bigode, muito menos para ficar bonito eu não tinha é coragem é de raspá-lo. Foi então que fiquei pensando e esses pensamentos me perseguirão atéa hora do banho, quando decidi eliminar de uma vez por todas o meu bigodinho. Aproveitará a deixa que só estava em casa eu e minha irmã mais nova; minha mãe tinha saído de viagem, meu pai trabalhando e chegaria tarde e minha outra irmãjá morando fora, eu iria raspar o bigode e ninguém ia notar, se minha irmã notasse essa era fácil de driblar e mesmo assim, dela eu não sentia vergonha, também não iria zoar em mim.
Raspei...
Sai do banho com aquela cara de bunda e logo vi minha irmã na sala:
- Nossa você ta pálido...
- Raspei o bigode...
E ficou por isso mesmo, como pensei, ela não zoaria em mim, e não fazia piadinhas, mesmo que se fizesse levava uns tabefes, afinal sou mais velho.
Passei a noite na maior calma achando que ninguém daria pela falta do bigodinho. Na manhã seguinte fui à escola com certo medo, porém ninguém notará ou achava normal eu ter raspado, pois aquele empecilho só existia em minha cabeça, para as outras como o Cláudio eu já havia raspado o bigode e deixava-o por opção, não era um fato marcante como fora pra mim. Estava eu quando que quase na hora to intervalo o Fausto, meu vizinho que desde muito criança me conhecia e brincava comigo na rua, me chama lá do fundo:
- O Rô... Olha aqui...
Olhei... E em alto e bom som:
- A lá ele raspo o bigode...
A gargalhada foi geral!

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