Retrospectiva de Rua

Retrospectiva de uma vida de rua

Desde que me entendo por gente, melhor dizendo, desde que tenho uma idéia do existir eu brinco na rua...
Claro que hoje em dia apesar da falta que me faz, eu não brinco mais, mas se pudesse eu brincava, quer dizer, pode, mas não brinco porque não tenho com quem brincar.

Como sabem fui criado em uma cidade do interior paulista e cidades do interior paulista, são muito pacatas, possibilitando assim as crianças brincarem na rua até tarde da noite se esse for o desejo delas ou se as mães permitirem. Aqui não era diferente, em minha rua havia oito moleques contando comigo, isso sem contar os que vinham de outras ruas. Se não me falhe a memória deveria em média ter uns doze guris, todos com hora marcada para chegar sejam para, jogar bola, contar estórias de terror, brincar de pé-na-lata, seja o que fosse sempre vinham a nossa rua, para poder passar a noite, ou melhor, parte da noite conosco. Havia dias em que não comparecia ninguém, mas sempre os oito que aqui moravam estava na rua, certamente o motivo para tirar um de nós da rua era a avaliação marcada para o dia seguinte na escola, esse motivo por muitas vezes me deixou em casa com as mãos no caderno ouvindo a meninada brincar na rua. Com era doloroso estudar para a prova com a galera se divertido. A cada gol marcado, a festa era grande.
Nessa época ainda era a época do futebol de rua, éramos bem pivetes, eu se não me falhe a memória estava na quarta série; à atividade para as noites era o futebol e não se discutia. Deixo claro também que não era o estudioso, estudava sim porque minha mãe mandava, senão...
Essa foi uma época boa, belíssimos gols marcados, maravilhosas defesas. Éramos como crianças normais em suas idades copiando seus ídolos no futebol, copias que muitas vezes nos traziam para casa sem a tampa do dedão do péou com o joelho ralado, não tínhamos chuteiras, pudera, para o tipo de gramado, asfalto, a chuteira ideal era o pé no chão. Tempo bom os do dedões, ao fim de uma partida sempre sentávamos para comentar os gols e as jogadas, e cada comentário era acompanhado pele retirada dos dedões, o sangue era mais do que comum....
Mas o tempo passa... E como o tempo passa, passa também o desejo de marcar gols na rua. O futebol era a atividade primordial, mas tinha dias que não jogávamos, seja por falta de bola, seja por um desfalque, ou seja, pela simples vontade de ficar conversando, poupando o dedão. Porém o tempo passou, ficamos mais velho e como já mencionado abandonamos o futebol de rua, futebol passaria a ser jogando em campo de verdade, nada de rua, nada de ficar sem a tampa do dedão. Tínhamos que fazer algo tinha que ter uma outra atividade que suprisse a falta do futebol, já que conversar estava ficando monótono demais, então a nova brincadeira de rua era o Pé-na-lata. Começamos inicialmente com os oito garotos da rua. Era divertido demais, com oitos moleque o combinado para se esconder era somente de um quarteirão, não podia passar se passasse, se passasse passou, quem iria descobri?
Algum tempo, esses oito garotos se transformarão em quinze, esses quinze em vinte, esses vinte em trinta e dois e esses trinta e dois, acreditem ou não, em quarenta e cinco moleques, foi o recorde de nossa rua para brincar de pé-na-lata, tinha nego de tudo canto da cidade, deis dos bairros mais chiques aos mais pobres, deis do riquinho ao pobretão, tinha de tudo, quase cinqüenta moleque brincando de pé-na-lata, coitado de quem teria que procurar os outros quarenta e quatro. Com tamanha aglomeração era comum ver discussões, brigas, tapas, risadas e zoeira, com tamanha aglomeração um engraçadinho certa vez resolveu marcar quem seria o mais lerdo para pegar os quarenta e quatro. Você que esta me lendo não tem noção da quantidade de moleque que tinha, era muita gente e praticamente impossível pegar todos, ou seja, aquele que começasse pegando ficaria a noite toda. Em partes... Vale lembrar que devido a essa quantidade enorme de moleques o campo não era somente mais um quarteirão e sim a cidade toda para se esconder.

Certo dia eu estava escondendo em um posto de gasolina, eu e mais uns cinco era comum você sair pela cidade e ver moleque sentado na praça, moleque esse que estava brincando em nossa rua. Porém estávamos nós seis nesse posto eu bebendo água, quando vi o doido que estava na lata (procurando os que escondiam). Era impossível, o cara era doido demais, não era de costume sair assim tão longe para procurar as pessoas, mas ele foi e me pegou primeiro. E com o tamanho azar, nenhum dos quarenta e quatro conseguiu me salvar, estava comigo eu seria o próximo a procurar o restante, e que restante...
O recorde de permanência na lata era de um moleque da rua de cima, ficou tanto tempo na lata um dia, que nunca mais voltou a nossa rua para brincar novamente, ou seja, ele camelou e muito. Outro, também de outra rua, que estava na lata, após algumas horas tentando em vão capturar os demais amiguinhos, fugiu correndo de volta a sua rua, em vão, o povo ao vê-lo correndo correu atrás e o pegou antes de entrar em sua casa, eu estava no meio dos que o cercaram, e com lagrimas nos olhos o pobre gordinho foi avisado para nunca mais ir à nossa rua brincar, pois não sabia brincar. Mas agora estava comigo, eu era a lataeu teria que capturar quarenta e quatro moleques, como agir, o que fazer, como proceder... Sair correndo como o doido que me pegou na outra rodada era loucura demais, suicídio. Iria eu guardar caixão e vencê-los pelo cansaço. Não adiantou muito, era moleque demais, pegava um o outro vinha e salvava; lá estava eu correndo atrás da lata para que o povo se escondesse novamente. O combinado era que se eu pegasse um, mesmo que outro o salvasse ele não poderia ir esconder,se estivesse uma rodada parado, peguei vários e esses vários ficarão rodadas paradas mas mesmo assim quando um ia jogar a lata os que estavam pego também escondiam. Em suma, estavam me enganando... Nessa noite eu camelei, mas camelei demais, quase, puis os bofes pra fora de tanto correr atrás de lata, porém achei chato sair fugido como o gordinho da outra rua, afinal de contas àquela era minha rua, eu tinha que agüentar. Confesso que pensei sim em fugir uma vez que passei por perto de minha casa, mas se fugisse com certeza me pegariam no outro dia, de que ia adiantar? Resolvi encarar e quase morri.
Já estavam até mesmo zoando com minha cara, quando todos estavam ficando escondidos amontoados em um canto escuro. Eu tinha certeza de que estavam todos ali, mas se gritasse: Tudo mundo pego, certamente iriam gritar que eu queimei panela, e isso me custaria mais uma rodada na lata. Camelei muito... Até alguém não me lembro quem ficou com dó. Ficou com dó e disse para parar com a brincadeira que eles já tinham judiado demais e graças a esse um que eu não me lembro quem eu não entrei para o recorde da rua, fiquei sim em segundo lugar atrás do carinha da outra rua.

Depois desse dia após ter praguejado e muito por não ter tido prova no dia seguinte, eu resolvi não mais brincar quando o número de moleques ultrapassasse quinze, ou seja, fiquei muitos dias sentados ali vendo o povo brincar, jáque deixar de ir à minha própria rua também não era muito interessante.

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