O Bigulim do Haroldo

O Bigulim do Haroldo – o Haroldinho

Não, eu não escrevi errado, o Bigulim é realmente Bigulim, pelo menos no caso de nosso amiguinho Haroldo...
Haroldo nasceu em uma pacata cidade do interior paulista, onde as maiorias das pessoas se conhecem, assim sendo, se Clarice esta grávida logo todos sabem, se Ademar é um bêbado mesmo sendo pai de família nunca será novidade. Nosso Haroldinho vivera e aprendera a se defender em meio a tal recôncavo. Se defender...
Filho caçula dos Bigulim, Haroldo era o menos esperado, fruto de algo que não se sabe como, fora fertilizado no bucho da mãe de maneira que pegara todos de surpresa e após longos sete meses de menstruação atrasada vem ao mundo o mirrado Haroldo, desde já apelidado de Haroldinho pelo irmão mais velho. Tal notícia percorre a cidade e a família Bigulim, alguns se espantam, outros entendem, uns defendem e outros vão a sua visita ainda no hospital. Chacotas eram acompanhadas de risadagem essas sem pudor a serem escondidas. Podre Haroldo...
No dia em que completaria seu primeiro ano de vida nosso amiguinho iria enfrentar algo que não estava nas suas expectativas. Babando em seu berço como era de costume, nos primeiros raios do qual deveria ser um dia de comemorações Haroldo aguarda... Espera... Com seus olhinhos abertos olhando fixamente para a Vaca Preta pregada no teto fica ele mais sua baba na expectativa de que alguém em algum momento invada seu pequeno quartinho, no qual era uma dispensa, aos berros e cantando... Mas nada disso acontece. O pobre sabia de certa forma que aquele dia era o dia dele, sabia de qualquer forma que era uma ocasião especial, porém mal sabia que tal dia inevitavelmente cairia em um domingo. E domingo você assim como eu sabe que é o dia em que podemos dormir até mais tarde, é o dia que deixamos o jornal no portão até depois do almoço, é o dia do nosso merecido descanso e nada nem ninguém tiraria os Bigulim da cama nesse dia, nada... E assim, o primeiro ano de vida de nosso pequeno protótipo de gente passa despercebido, lembrado somente no dia seguinte, mas que no corre-corre rotineiro o infeliz recebe somente alguns afagos na cabeça, acompanhados de: “Feliz aniversario Haroldinho...”.
Os anos passam e nosso pequeno, nessa altura de sua vida já com o primeiro sinal de uma vida infeliz, tem o primeiro dia de escola (logo irão saber qual o primeiro sinal no qual falei). Haroldinho esta inquieto, primeiro que todos levanta da cama e sozinho se arruma e escova os dentes... Não dera o trabalho à mãe como de costume, estava eufórico para ter o primeiro dia de aula: novos amiguinhos, novos conhecimentos, novidades, algo de bom pra fazer. E lá foi naquela manhã nublada de fevereiro o pequeno, apenas ele, sozinho com um guarda-chuva e uma sacola em punho; com o guarda-chuva se protegia dos primeiros pingos daquela manha e com a sacola, levara o lanche para a hora do intervalo, a sacola nada mais era do que algo improvisado pela mãe que acabara por esquecer de comprar uma lancheira como a dos demais amiguinhos.
E como o mais azarado dos meninos Haroldo, naquele que seria o grande dia de sua vida (mais um), chega como um pinto molhando no local em que passaria grande parte de sua vida, a escola. Meio que perdido, meio que assustado, desnorteado se põe a chorar agarrado com a sacola no meio dos corredores da escola. O pão que ali continha após litros de água passa a se tornar algo coloidal de cor bege claro, uma sopa, quanto ao guarda-chuva, nem mesmo se lembrava que saiu de casa com um... A situação se tornava catastrófica não era comum ver um moleque todo molhado, com um saco branco escorrido pelo peito no qual segurava com as duas mãos, com uma cabeça grande e com lagrimas nos olhos. Muitos olhavam com pena, mas a grande maioria ria as gargalhadas...
Após cinco minutos que com certeza marcaram para sempre a vida do menino, dona Maria Inácia vem ao seu socorro. Com um pano envolve o pequeno e leva-o para a sala da diretoria, onde recebe tratos para poder então ir à sala de aula. Não se assuste você ao imaginar uma criança de seis para sete anos ir ao seu primeiro dia de aula na escola sozinha, não era o feitio da mãe, ambos os irmãos de Haroldo foram acompanhado ate mesmo do pai no primeiro dia de aula, porém nesse dia, o dia do nosso notável eles não puderam ir, motivo não qual não sei. Já seco e conformado com o episódio era hora de ir para a classe, conhecer seus novos amiguinhos... E lá foi acompanhado de dona Maria, que no momento em que chegam a sala de aula, o professor José estava na dinâmica de “como você chama?”. Alguns que ali estudavam o reconhecerão do corredor e com risinhos escondidos tapados com as mãos tentavam ao máximo disfarçar, em vão, pois Haroldinho nota...
O professor com sua diplomacia costumeira e já sabendo do ocorrido, ao vê-lo tenta animá-lo, dando-lhe a oportunidade de dizer para a classe: “Como é o seu nome caro amiguinho?” Abalado psicologicamente, da uma olhada superficial pela sala e nota que todos ali o encaram e alguns com um risinho no rosto aguardam, mas aguardam o que?
- Haroldo... – Diz muito tímido...
- Pois bem, – O professo Zé com uma de suas mãos na “cabecinha” do novo individuo ali presente – Haroldo de que?
- É... Bigulim...
Ao mesmo tempo em que todos ali começaram a gargalhar o cabeçudinho que era o centro das atenções se põe a chorar aos berros, desesperado olha para o professor com o intuito de ser mais uma vez socorrido, este não se contem e junto com a turma esta rindo... Todos rindo dele, todos... Ate mesmo o professor, ate mesmo dona Maria... Que dia traumático para nosso pobre, que dia triste. Após esse dia foram raros os dias em que Haroldo ia à escola, faltava muito e com suas faltas vieram às reprovações... Era considerado o mais velho da turma do segundo ano, já era a terceira vez que fazia o mesmo segundo ano...
E dentro daquele que deveria ser um coraçãozinho cheio de alegria e paz, o destino de uma pobre criança muda completamente como pode constatar nos episódios que se seguiram.
Hoje há relatos que nosso herói após incansáveis anos letivos (mais do que o comum, um pouco mais do que você imagina), esta cursando uma faculdade para poder ser alguém na vida... Hoje já não sofre mais tanta rejeição dos pais e é bem vindo... Tem alguns amigos, pelo menos gosta de dizer que tem, fuma e bebe como ninguém... E é também hoje que nosso Haroldinho é o centro das atenções, não como bode expiatório, como nos anos anteriores, mas com o mais engraçadinho da turma, tivera que se virar e arrumar um meio de tapar um passado desgraçado e para disfarçar o que certamente foi uma vida de magoa e de tristezas, devidamente ao seu modo de pensar e agir combinado ao seu terrível sobrenome, Haroldo não se deixa ser zombado e sim é o zombador...
E assim se vai levando... Levando com medo de que seus “amigos” um dia descubram seu terrível passado.

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