Alguns Momentos...

Seria junho, ou julho, não me lembro...
Não me importa lembrar-se do mês, e sim do fato ocorrido com João...
Da pequena Vila onde moravam eram, os, chamados por alguns: "Diferentes!". Pelo simples fato de fazer-lhes de suas vidas o que bem entendiam o fato de estarem à mercê de sociedade, diga-se de passagem, fechada, talvez por isso fossem os diferentes...
Raimundo estava no seu quarto. Era noite... A espera por tal episódio, nunca antes sonhado, estava por vir, e ele tinha de se preparar para tal. Ir de corpo presente para o espetáculo era algo que qualquer um ali na vila o faria, mas com Raimundo a coisa deveria, teria de ser diferente. Então lá estava ele em seu quarto, trancando ouvindo suas musicas favoritas, se preparando ou talvez quem sabe ensaiando... Lá fora o mundo desaba em água apesar do mês friento, onde chuvas nesse período são raras de ocorrerem, porém, quando se tem é forte por demais. Sentado no chão, tinha a sua disposição um pequeno estilete, desses usados nas escolas pelos alunos, para apontar (afiar) a ponta do lápis, tinha também uma calça jeans que estaria ali jogada no chão dês da hora que chegara do colégio. A idéia de chocar o povo da pequena vila não lhe saia da memória; ser diferente era algo onde todos adolescentes de uma geração sonhara ser, porém Raimundo juntamente com seu amigo João deixara os sonhos de lado e, seja loucura ou não, começaram a por em pratica o que muitos diziam, loucura. Foi então que em um ímpeto Raimundo pega o pequeno e amarelado estilete, iria por em prática sua idéia, chocar talvez as demais pessoas, mostrar que não apenas iria ao espetáculo como também encarnar uma personagem. De supetão fez-se o primeiro corte, logo abaixo dos joelhos, um rasgo mesmo, não muito grande coisa de uns sete centímetros... Levantou-se, olhou de pé,esticou e viu como ficou... Ficou bom... Gostará da idéia, iria continuar... Novamente com o estilete em mãos um novo corte iria surgir, este agora acima dos joelhos na coxa, mas este, diferentemente dos anteriores só teria na perna direita e um pouco maior, resolvera fazer deste um quadrado, coisa grande, mas não muito. Novamente de pé a fim de analisar a obra, esta ficando bom... Muito bom... Precisara agora fazer alguns efeitos algo como esfolado, raspado. Somente rasgos não chocariam os demais jovens da pequena cidade, ou seja, vila. E ao som de vinte e nove, com pedras não mão, teve a brilhantíssima idéia de ir atéa rua e apanhar duas pedras, sim, duas pedras seriam mais do que suficiente para esfolar ou raspar, seja lá como prefere. Novamente dentro do quarto, agora armado com duas pedras, começa as esfoliações, estaria ficando algo melhor do que o esperado, ele guardaria este dito, segredo ate o dia do espetáculo, o dia em que todos iriam ver como se preparará para tal.
Era noite e João estudava a noite, a aula era de história Portuguesa o fato de trabalhar durante o dia não deixava João nenhum pouco animado a estudar, portanto sabia que era preciso, mas naquela aula de história ele não estava com animo para estar ali, estaria com o pensamento não no presente, mas no futuro; com o que iria acontecer na sexta-feira, o espetáculo... Era terça ainda e João estava na aula de história Portuguesa, com a professora escrevendo sem parar no quadro-negro, como se alguém ali estivesse interessado nos Portugueses. Só que João não parava um minuto se quer de escrever em seu caderno, estaria ele copiando o passado que estava sendo passado no quadro-negro? Não. Não era no passado que João estava escrevendo e sim, talvez o que pra ele seria um futuro, um sonho, algo almejado, algo esperado. Estaria João escrevendo as primeiras letras da Projeção Ardil, banda meticulosamente criada para ser um estouro, banda tão boa, talvez, desculpem-me pela comparação, melhor do que a do espetáculo. Inspirado assim como Raimundo, o amigo sem talento para a musica, João escreve... Vez por outra ri escrevendo, um riso quieto, somente imaginando o cenário de sua letra. Sonhos na ponta da caneta, ou realidade? Dissera certa vez a Raimundo em um dos points da cidade, a Caixa d'água, pra ser mais exato: "A caneta é mais forte que a espada". Um turbilhão de pensamentos inundaram a cabeça de Raimundo com tal frase; realmente João tem razão. Orgulhoso do amigo outro dia, lembra-se até hoje do local, assim como se lembram da Caixa d'água, Raimundo também recitaráuma frase que havia lido em seus livros. João estava triste e cabisbaixo nesse dia, havia levado um fora, um "não" de uma menina, para alguns, coisa normal, mas não para esses dois. Um fora era algo para ser pensado e repensado, porque ela disse não? Foi então: "As duas qualidades de um mestre: Paciência e flexibilidade.".
Gostava de ler o Raimundo, João também, mas talvez por falta de tempo; ele trabalha, não lia tanto quando Raimundo, mas lia... O que Raimundo poderia passar para o amigo era passado, sem exceções: "Paulo Coelho não é de nada! Fantoche serve pra nada. Um dia vai me entender", João apenas ouvia... O que ambos tinham em comum era o gosto pela escrita, João compunha belas canções, Raimundo sonhara ser um escritor. O gosto pela música existia e eram parecidos.
O espetáculo estaria para chegar, faltava somente um dia para sexta-feira. E Raimundo já estava pronto com seus cortes, já estaria quase com as penas toda furada e esfarrapadas, ninguém saberia até o dia do espetáculo, ninguém, nem a mãe, claro que isso iria lhe custar uns sermões de sua mãe, afinal não é qualquer adolescente que esfarrapa as pernas de uma calça jeans somente por causa de um show de rock. Esse show era um cover da extinta banda preferida de ambos, os nervos estavam a flor da pele, seria amanha o espetáculo.Como João trabalhara durante o dia e a noite estudava e o show seria numa sexta, nesse dia iria cabular aula, saíra do trabalho as seis da tarde onde dera uma passada na casa de Raimundo afim de saber o que iriam beber antes do show, claro que um show desses não poderia ser visto a olhos cru, deveria te ter uma boa dosagem de álcool, um pequeno grau de loucura, algo parecido. À noite momentos antes daquele que seria o melhor show visto por ambos, João passa na casa de Raimundo, surpreende-se com o estado em que estava a calça jeans do amigo, da uma pequena risada o abraça e diz: "Fico massa!!!".
Foram...
O choque como esperado foi grande o choque de algumas pessoas, estava ele a rigor, com sua calça modelada por suas próprias mãos e no peito uma camiseta com uma enorme foto daquele que seria o vocalista da banda. Ao contrário do que pensara sua mãe não deu o esperado sermão, apenas riu e disse que ele estaria sem calça para ir ao colégio: "Tem coragem de ir com essa?".
Foram para o show... Ao palco a figura daquele que era copia idêntica ao ídolo já morto, da banda original, estava com uma bandeira do Brasil cantado aos berros "Que País é Esse" e este, em um momento de puro êxtase, um momento de loucura, um momento de emoção, foi decretado ali a mais pura e verdadeira amizade entre duas pessoas, ali diante daquela platéia, foi consumado uma das melhores amizades entre dois seres-humanos. E Renato Russo, cover, mas Renato Russo, estava brilhantemente no palco... seria uma aparição? Talvez, estaria ele ali para ver João e Raimundo alucinados com as suas canções...
E assim como o original o corver ao termino se fez...
"Força Sempre!"

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