Linha 347

De todas as novidades que já presenciei com minha mudança para a Capital Federal de meu país confesso que a que vi no dia de hoje foi a que mais me deixou atônito, tanto que me fez correr a vir novamente escrever uma crônica (que a muito não escrevia).

Acontece que nos dias de hoje, morando em Brasília e trabalhando no centro de Brasília (Plano Piloto), minha locomoção ao trabalho é por meio publico. Sim, vou trabalhar de ônibus. Os gastos que estava tento eu com meu automóvel para ir trabalhar, estava por demais, diante de uma miséria que espero ser passageira um, dos meios a economizar foi abandonar meu carro e passar a vir de ônibus (a empresa que trabalho paga). É mais ou menos assim que funciona: acordamos eu e a Maria às 6 horas da manha. Arrumamos-nos, tomamos um rápido café da manhã e vamos embora pro batente. Como moramos em um condomínio fechado a rua principal fica a uns quinhentos metros subindo (nem se compara com as subidas de Auriflama), devido a este pequeno trajeto ganho todos os dias uma carona de minha esposa. É uma maravilha para meu bolso, pego o ônibus praticamente na porta de casa, onde sou deixado no meu destino após cinqüenta minutos de transito. Na volta, quando estou chegando em casa, ligo para minha amada para que ela vá me buscar em um ponto combinado, isso porque o ônibus que pego para voltar é outro e passa somente próximo a cidade (satélite) que moro. Estou morando há dois anos e meio, mais que isso, quase três anos em Brasília. Cultura diferente, costumes diferentes, coisas diferentes. No começou foi um pouco estranho me adaptar a essas coisas, mas acabei me adaptando. Aqui, em Brasília e seus “arredores” diferentemente do estado de São Paulo (de onde vim), os frangos assados, são feito no meio da rua, é comum você ver uma pessoa com um tambor em brasa pontos os franguinhos para assar. Parece àquela coisa de chinês, tudo no meio da rua, é engraçado. A moradia do povo aqui também é estranha. Sabe casas de praia (Praia Grande, Guarujá, etc.), que o pessoal aluga pra passar um ou dois dias, aquelas casas tudo junto uma da outra, sem muros para separar, onde o pessoal (por ser temporada) dorme tudo um ao lado do outro. Pois é aqui na Capital é assim também. Mas as pessoas não estão aqui para passar temporadas. Garagens? É um luxo, poucos tem... Pela manha, antes do povo ir trabalhar a quantidade de carros que você vê estacionado na rua é enorme. Tudo muito estranho a olhos de um paulista interiorano que nunca saiu de sua cidade (um Jeca como dizem). São inúmeras as comidas diferentes. Aqui, tem o tal do Pequi. Uma fruta amarelada que o povo coloca no meio do arroz, carne, etc. Horrível. Quando esta sendo preparado o cheiro é por demais forte, enjoativo. Paulistas como eu, nunca ouviram dizer de tal fruta, pelo menos eu nunca ouvi dizer. Outra comida que temos aqui, essa acho que paulistas mais atualizados quanto a esse pobre Jeca já ouviram falar é o cuz-cuz (não sei se escrevi certo). É uma meléquinha, um concentrado de milho que é feito sob o vapor de uma água fervente. Provei e não gostei. Estranhos os gostos dos candangos. Outra coisa que me chamou atenção cheguei de mudança foi o sotaque do povo. Enquanto todos riam de como eu puxava o erre ao falar porta, carne, entre outras palavras, eu ficava abismado de como eles ocultavam tal letra. Claro que não estão errados, assim como eu também não estou, é regionalidade nega, país grande como nosso Brasil é assim. A exemplo o povo do sul fala o erre arrastado. Há também algumas “novidades” no transito daqui. Dizer que aqui eles não sabem dirigir não cabe a minha pessoa (vou e volto de ônibus lembra?). Mas uma coisa que eu admiro e acho legal é que aqui no DF temos a faixa de pedestre. Bastas o pedestre erguer a mão em cima de uma faixa de pedestre e o transito pára para o dito cujo passar. Tá, nem tudo são mares de rosas. Já noticiaram alguns atropelamentos, mortes e eu mesmo quase presenciei um. Uma senhora ergueu a mão e parrou, não esperou os carros pararem, por pouco quase parte dessa para uma melhor (?).

Mas... O fato que me ocorreu hoje foi estranho, cômico, propicio-me uns instantes de raiva, não bastasse, achei também constrangedor; não para minha pessoa, mas por presenciar o que presenciei. Minha adorada e também amada esposa deixou-me no ponto de ônibus (aquele em frente ao condomínio em que moro), e lá permaneci esperando o coletivo que me levaria ao trabalho, demorou alguns minutos e finalmente apontou rua acima o verdinho (é um ônibus verde). Ao entrar notei certo movimento no setor em que são destinados a pessoas idosas e portadores de deficiências, algumas mulheres ali em pé, outras sentadas, conversando muito e alto. Detalhe que o ônibus sempre passa naquele ponto com lugares sobrando, educadamente pedi licença e procurei um assento. Nos poucos metros que andamos a conversa lá na frente foi aumentando, algumas pessoas entraram e lá permaneceram, também conversando e alto. Pensei antes pegar meu livro para ler, que aquilo deveria ser uma pequena reunião de conhecidos que sempre pegam o ônibus. Senta-feira, final de semana, tudo mundo feliz da vida ponto a conversa em dia. Natural. Mais alguns metros adiante escuto: 1... 2... 3... Parabéns pra você... Havia algum aniversariante no ônibus e estavam comemorando. Tamanha algazarra seria por isso? Percebi que quem estava fazendo aniversário era uma menina de uns 10 anos que logo ia descer do ônibus. Em meio à leitura, escuto as vozes que estão altas por demais, dizendo: “vai passando, vai passando..”. Olhei. Estavam passando salgados, refrigerantes, doces e tudo que uma festa tem direito, parra os passageiros. Tinha até suco natural, chocolate quente. Preferi não comer nada apenas fui passando as bandejas quando essas chegavam até a mim. Volta e meia era interrompido de minha leitura para passa a bandeja dos comes e também os bebes. Irritei-me devido ao barulho que era muito e o fato de ser interrompido constantemente de minha leitura, coisa que eu odeio que aconteça, estava acontecendo. A dona da festa, ou a pessoa que tinha armado tudo aquilo era uma gordinha que falava mais que o homem da cobra e fala alto, como se queria aparecer, chamar atenção sei lá. Só sei que a achei muito vulgar. Ficava sempre na roleta berrando com o povo do ônibus. Decidi parar com a leitura, estava complicado por demais ler naquele ambiente. Essa mulher (a dona da festa) e outra que também falava alto (essa cantou certa vez: “hoje é festa lá no meu busão, pode aparecer...”) estavam quase pulando a roleta quando dei por conta o que uma delas tinha nos braços. Um amontoado de pano... Olhei melhor. Vi. Não acreditei. A pessoa que falava, berrava e passava os comes tinha agora nas mãos um bebe, um recém nascido, onde ela se deu o trabalho de chamar uma das passageiras e disse: “Toma, vai passando... Só não come ele não HAHAHAHA.”. Aturdido não acreditei no que via realmente a pessoa que pegou a criança, assim como mandara a mãe, foi passando, e várias pessoas pegaram o bebezinho, que inocentemente não chorava, apenas olhava a todos com os olhos arregalados. Pensei em várias coisas. Pensei na tal gripe que anda circulando por ai, que deixou todos em alerta. Pobre criança... Achei melhor ficar quieto e apenas reparar o bebe ser passado de mãos em mãos, pobre criança gordinha.

Havia outra criança nos seus 11 anos que acompanhava o bebe, pelo que reparei era irmã. Aos comentários da mãe: “Fia... Num deixa ninguém leva o Borracheiro não”, notei que era irmã do bebezinho e filha da... louca. Borracheiro era o bebe que ia de colo em colo e que nessa altura já estava no fundo do ônibus.

Por fim ergui as mãos para o céu (puxei a cordinha do ônibus) e agradeci não ter enfartado nessa viagem, quando estava chegando ao meu destino. Estou bem, acreditem. Pronto para mais uma sexta-feira. Tia, passe álcool no Borracheiro, por favor. De tudo que presenciei, todos os costumes aqui visto, acredito que esse foi o mais estranho.

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